Travessia Serra Fina – 3 dias
Quem Foi
Fomos só eu, Cristiano Amaro, e meu irmão Atla Amaro. Os
outros parceiros tiveram dificuldade em negociar folga, já que precisaríamos de
alguns dias da semana livre.
Planejamento e Preparativos
Como essa travessia é considerada uma das mais difíceis
do Brasil, tivemos o cuidado de planejá-la com bastante antecedência.
Programamos nossa saída de Curitiba para o dia 10/05/13 (sexta) e retorno no
dia 15/05/13, que acabou sendo antecipado em 01 dia (mais abaixo saberão por
que).
Uma das maiores dificuldades da Serra Fina é a escassez
de água, de modo que planejamos que cada um levaria 5,5 litros do liquido
precioso, dividido em 2 garrafas pet 2 litros e 1 cantil de 1 litro. Isso
somado ao restante da carga das mochilas pesou mais de 19kg (outro fator
preocupante é o peso).
Ônibus
Ida
Curitiba – São Paulo
Embarque Tipo Tarifa Duração Previsão Empresa
23:20 CONV R$73,50 06:00 11/05/2013 05:20 COMETA
São Paulo – Passa Quatro
Embarque Tipo Tarifa Duração Previsão Empresa
07:00 CONV R$47,47 04:50 11/05/2013 11:50 COMETA
Fiquei com medo de comprar a passagem pra esse horário e
o busão de Curitiba pra São Paulo atrasar. Por curiosidade olhei na noite de
sexta feira como estavam as reservas e, pra minha decepção, o ônibus das 7h já
estava lotado, assim como o das 8h. Pra garantir comprei a passagem para o
próximo horário, 12:15h
Programação Inicial
11/05/13
Rodovia MG 158 – Toca do Lobo
10 km – 4h
(previsão de chegada 16h)
12/05/13 Toca
do Lobo – Acampamento 01 Capim Amarelo
Pegar água na
Toca do Lobo
5 km - 8h (previsão
de chegada 15h)
13/05/13
Capim Amarelo – Acampamento 02 Pedra da Mina
Pegar água no
Rio Claro
7 km - 8h
(previsão de chegada 15h)
14/05/13
Pedra da Mina – Acampamento 03 Pico Três Estados
Pegar Água no
Rio Verde (Vale do Ruah)
8 km - 9h (previsão
de chegada 16h)
15/05/13 Pico
Três Estados – Sitio Pierre
10 km - 5h
(previsão de chegada 12h)
O ônibus, como de praxe, saiu atrasado em quase 40 min.
Como nossa passagem pra Passa Quatro era só depois das 12h tínhamos tempo de
sobra. Acordei muito cedo na sexta feira e estava bem cansado, foi sentar no
busão e dormir. Mas meu sono durou apenas meia hora, as 00:30 fui acordado por
um policial federal. - Você é o
Cristiano Amaro? Respondi que sim e ele me pediu para que descesse do ônibus e
o acompanhasse. Na hora pensei milhões de coisas ruins (tragédia com
familiares, atraso de pensão alimentícia... isso que nem tenho filhos rs).
Depois fiquei mais tranquilo quando descobri que se tratava da nossa bagagem. Um cão farejador (falhado rs) implicou com a mochila do
Atla e os policiais pediram pra revistar a dita cuja. Fiquei com pena do meu
irmão porque nossas mochilas estavam muito cheias e deu um trabalhão tirar tudo
de dentro pra depois arrumar de novo. Resumindo, acho que desgraçado do
cachorro gostou do cheiro da calabresa que estávamos levando. Como não tínhamos drogas (nem camisa do Corinthians) fomos
liberados, isso depois de longos 30 minutos. Gostei de ver a decepção dos passageiros,
que apostaram que éramos traficantes de drogas hehe.
Chegamos na rodoviária do Tiete antes das 6h da manhã. A
primeira coisa que fizemos foi ir ao guichê da empresa Cometa e tentar
antecipar o horário da passagem pra Passa Quatro. Por sorte colocaram mais um
ônibus pras 8:30h e ainda tinha lugar. Um pouco depois das 13h estávamos em
Passa Quatro.
Dica:
Evitem sair de Curitiba na sexta feira ou em
véspera de feriados. Só assim você poderá reservar a passagem pra Passa Quatro sem
medo do ônibus Curitiba / São Paulo atrasar e acabar perdendo o embarque pra
Minas.
Passa Quatro
Depois de um almoço caprichado, num restaurante próximo ao
terminal rodoviário pegamos a rodovia sentido estrada Toca do Lobo, que fica a
aproximadamente 2km do centro de Passa Quatro. Muito ruim andar nessa rodovia, não tem
acostamento. Em poucos minutos estávamos no inicio da estrada e às 15h
iniciamos nossa caminhada.
A estrada é só subida, a altitude inicial é de pouco mais
de 960m e termina acima dos 1600m. Dá pra vencer o percurso de aproximadamente
10km em menos de 4 horas de caminhada. A estrada é muito bonita e repleta de
araucárias e eucaliptos. Pouco antes da chegada a Toca do Lobo dá pra ver como
será o inicio da empreitada.
Antes das 19h estávamos na Toca do Lobo, onde acampamos e
fizemos um jantar caprichado, macarrão com calabresa.
1º Dia 12/05/13 – Da Toca do Lobo até o Maracanãzinho –
Dia tranquilo com caminhada leve.
Pra iniciar a trilha deve-se cruzar o rio bem em frente à
Toca do Lobo. A maioria das pessoas, assim como nós, prefere pegar água nesse rio,
mas um pouco antes do Quartzito tem um ponto de água. Depois de pegarmos 5,5
litros de água, cada um, iniciamos a travessia, às 8h. Já de cara a trilha é bem
íngreme e dá pra ter noção de como será dali pra frente. Poucos metros acima já
dá ter uma vista bem interessante da cidade de Cruzeiro (acho eu) e do
Quartzito, separado por um longo corredor sobre a crista dos morros.
Encontramos com 2 montanhistas locais que estavam empenhados em abrir uma
trilha que liga o centro de Passa Quatro (próximo ao terminal rodoviário) ao
cume do Capim Amarelo, passando por algumas poucas montanhas e desviando a
estrada da Toca do Lobo. Eles acreditam que em 1 ano terão concluído sua
missão.
As 11:30h, depois de muita subida, já estávamos no cume
do Capim Amarelo. A principio esse era o objetivo do dia, mas como ainda estava
muito cedo decidimos almoçar e avançar até o Maracanãzinho pra ganhar algum
tempo pro dia seguinte, que no caso seria mais puxado que o anterior. As 15h depois
de bater aquele rango (arroz, feijão e calabresa) e tirar uma soneca merecida,
já que tínhamos dormido mal nos 2 últimos dias, partimos pro camping próximo ao
Maracanãzinho. Do Capim Amarelo até lá levamos 1h e 40min. A descida tem que
ser feita bem pela esquerda, é só seguir os totens.
Assistimos o por do sol, muito lindo por sinal, armamos
nossa barraca, jantamos e antes das 21h estávamos recolhidos no aconchego do
saco de dormir.
Dicas:
- Mesmo que esteja munido de GPS poderá confiar nos
totens;
- Se chegar depois das 15h no cume do Capim Amarelo vale
a pena acampar lá. O camping é bem protegido pelos capins altos e o chão é bem
macio e plano.
- Independente se quiserem pegar água na toca, ou antes do
Quartzito, o recomendado é que levem de 4 a 6 litros. Talvez, como no nosso
caso sobre, mas é melhor pecar pelo excesso quando se trata do liquido
precioso.
2º Dia 13/05/13 – Do Maracanãzinho ao cume da Pedra da
Mina – Dia relativamente puxado com trechos de escalaminhada e alguns vales.
As 7h da matina iniciamos nossa jornada até a Pedra da
Mina. Algumas subidas e vales e lá por 10:30h estávamos no riacho, último ponto
de água antes do cume da Pedra da Mina. Aproveitamos pra nos lavar e dar uma
vadiada. Já que teríamos que almoçar mesmo aproveitamos pra fazer o grude ali, assim poderíamos lavar a louça com a água do riacho e pouparíamos o
liquido. Depois de um almoço e mais um cochilo rsrs rumamos pro ataque a Pedra
da Mina, eram 14h e 20min. Mais uma vez coletamos 5,5 litros de água cada um. A
subida é bem puxada com alguns trechos de escalaminhada, mas como estávamos
descasados vencemos o trajeto em pouco mais de 1 hora e as 15h e 30min
estávamos apreciando a vista do cume.
Montamos acampamento (o vento atrapalhou um pouco) e
ficamos assistindo a mais um por do sol, mais fascinante ainda que o anterior.
Ali no cume tem poucas opções de camping, mas como não tinha ninguém além de
nós dois arranjamos um lugar bacana e relativamente protegido do vento, que
estava forte por sinal. Jantamos e antes das 20h nos recolhemos em nossa
barraca. Foi a noite mais agradável que tivemos, dormi muito bem.
- Antes do riacho tem a Cachoeira Vermelha, mas não é um
bom lugar pra pegar água;
- Se fizerem a travessia em algum feriado correram risco
de não achar lugar pra acampar no cume da Pedra da Mina, desça até o Vale do
Ruah que bem no comecinho tem uma clareira legal pra acampar. No track que
estou disponibilizando tem várias áreas de camping marcadas;
- Mais uma vez fique atento aos totens, não invente
caminhos alternativos, acredite, não vale a pena.
3º e último dia – Da Pedra da Mina até a BR-354 – Dia intenso,
com muito sobe e desce, escalaminhada, encharco e vales repletos de bambus.
As 19h e 10min iniciamos a descida da Pedra da Mina
sentido Vale do Ruah. A descida é bem forte e íngreme, além de perigosa, levando
em consideração a dificuldade de se equilibrar com quase 20kg nas costas. Não
caia na tentação de subir o morro (que inclusive tem alguns totens bem visíveis)
que fica no final da descida. Pegue a esquerda e termine de descer até o vale
do Ruah. Nesse ponto a caminhada é lenta devido ao capim alto e solo “pantanoso”,
mas pra quem está acostumado com terreno assim fica divertido. O esquema,
depois de caminhar até o Rio Verde (1/4 de distância entre o inicio e o fim do
vale) siga sempre margeando ele pela direita, nunca cruze o rio. A trilha é bem
fechada e confusa, repleta de “caminhos de rato”. Se tiver um GPS em mãos e
seguir meu track poderá ganhar um tempo precioso. Depois do último ponto de
água (também está marcado) a trilha começa a rumar mais para a direita e o vale
termina iniciando a subida que dá acesso ao Cupim de Boi. Novamente deve-se
abastecer com água, principalmente se pretende acampar no cume dos 3 Estados.
Depois de algum sobe e desce (mais sobe do que desce),
antes do meio dia, estávamos no cume dos 3 Estados. Pra nossa tristeza o tempo
estava totalmente encoberto, impossibilitando qualquer tipo de vista. Não
achamos que valia a pena acampar ali e ainda era muito cedo então decidimos
fazer um lanche rápido e terminar a travessia naquele mesmo dia, afinal da li
até a BR calculamos que levaríamos no máximo mais 5 horas de caminhada.
Começamos a descer o cume por volta de 12h e 30min. A trilha fica bem pesada
com muito, mas muito sobe desce passando hora pela crista dos morros, hora por
vales repletos de bambu. As descidas são bem fortes também, mas os galhos e o
matinho ajudam a diminuir a carga das pernas. A mais emocionante escalaminhada,
no meu ponto de vista, é a do Alto dos Ivos, nos divertimos muito. Depois de
suar a camisa (fizemos muito rápido mesmo) por 3h e 30min já estávamos no final
da trilha. Lá tem uma bifurcação, pegue a estrada da esquerda, ela leva ao Sitio
do Pierre.
Não tinha ninguém no Sitio do Pierre, mas paramos ali
perto pra fazer mais um lanche e tomar um suco, na verdade tomamos 1 litro de
suco cada um hsuahuashsaua. Dali até a BR dá pra fazer em menos de uma hora. A
estrada passa por 2 porteiras e alguns pontos de água, uns fracos e outros
fortes.
Lá por 17h estávamos na BR, onde ligamos pro taxista /
motorista de funerária (kkkk) José Roberto (35) 9113-4325, que nos cobrou a
bagatela de R$60,00 pra nos levar até Itanhandu, distante quase 40km, onde
pegamos o Cometa pra Sampa.
Dicas:
- Se pretende fazer a travessia em 4 dias vale a pena
acampar no cume dos 3 Estados;
- Como a trilha é repleta de bambus use manga longa e
calça comprida, mesmo que esteja calor, ou ficará cheio de arranhões nas pernas
e braços;
- Se pretende fazer em 3 dias esqueça de almoço no último
dia, faça um lanche rápido.
Montanhoso, Subindo Montanhas e Conquistando Amizades.